Interpretar a realidade do povoado tão antigo como o do Torrão, é tentar adivinhar a marca de todos os que por aqui passaram, algures no tempo. Ao passar, um a um, cada povo trouxe a sua própria cultura na bagagem. Território “finisterra” por natureza, a faixa geográfica onde se situa o nosso país, no continente europeu, foi-se construindo como uma cultura sedimentar. Sem enxurradas catastróficas, um a um, cada sedimento sobrepôs-se ao sedimento anterior deixando visível todos e cada um dos sedimentos anteriores.

Da nossa visita e investigação ficou claro que a dramatização sobre o despovoamento tinha de criar as bases de um legado para o futuro e não há obra de arte como um ser humano motivado e consciente do seu potencial. Propusemos, assim, uma intervenção dramatológica ao povoado do Torrão. Um processo em várias fases que trabalhasse com as pessoas, dentro e fora. A partir dos conceitos de “isola”, chegadas e partidas, propusemos uma intervenção sobre a auto-estima de todos aqueles que ainda a procuram. Uma intervenção emocional sobre o passado, uma acção sobre o presente e um desígnio para o futuro.

O Fim do Teatro convidou a população do Torrão a escrever e a ler cartas para o futuro. Muitos escreveram e enviaram cartas para destinatários fictícios do futuro. O que contámos do hoje? O que imaginámos para amanhã? Teremos conseguido contar juntos o nosso presente a um futuro imaginário, que não sabemos se irá existir?

Assim nasceu o projecto CARTAS PARA O FUTURO.